Por Marcos Marinho, especial para o Política e Cotidiano
O ano de 2024 será lembrado como um período marcado por tensões políticas intensas, desafios institucionais e uma profunda necessidade de reflexão sobre os rumos da democracia no Brasil. Os principais fatos políticos do ano evidenciam as dificuldades na relação entre o Governo Federal e o Parlamento, os problemas enfrentados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e os constantes ataques às bases democráticas do país. Ao mesmo tempo, 2025 se aproxima trazendo tanto desafios quanto oportunidades para a direita e a esquerda no cenário político nacional.
A frágil relação entre o Executivo e Legislativo
A relação entre o Governo Federal e o Congresso Nacional permaneceu em um estado de constante tensão ao longo de 2024. Apesar de tentativas de diálogo, a polarização ideológica e a fragmentação partidária dificultaram a construção de consensos. Projetos de lei importantes, como as reformas tributária e administrativa, enfrentaram atrasos significativos devido à falta de articulação entre as lideranças. O impasse também refletiu a busca por protagonismo de lideranças parlamentares, especialmente no Senado, que frequentemente desafiou o Executivo em votações cruciais.
Bolsonaro e os problemas pessoais e políticos
O ex-presidente Jair Bolsonaro foi alvo de várias investigações em 2024, tanto no âmbito judicial quanto no campo político. Processos relacionados à sua conduta durante a pandemia da Covid-19 e às suspeitas de envolvimento em esquemas de corrupção em seu governo seguiram em ritmo acelerado. Sua capacidade de influenciar a direita brasileira, embora ainda significativa, sofreu abalos devido à perda de apoio de setores mais moderados. A tentativa de manter relevância política por meio de discursos inflamados e alianças controversas encontrou limitações, especialmente diante do avanço das instituições democráticas em conter discursos extremistas.
Ataques à democracia e reações institucionais
Embora menos intensos que em anos anteriores, ataques à democracia continuaram a surgir em 2024. Grupos radicalizados, incentivados por discursos de lideranças extremistas, tentaram deslegitimar o funcionamento de instituições como o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No entanto, as respostas das instituições foram firmes. A consolidação de um pacto institucional envolvendo Executivo, Legislativo e Judiciário ajudou a conter esses avanços, demonstrando resiliência do sistema democrático brasileiro.
Cenário para 2025: dificuldades e oportunidades
Para a direita, 2025 representa um momento decisivo. A necessidade de se distanciar de figuras polêmicas e reestruturar sua agenda é imperativa para recuperar credibilidade junto ao eleitorado. O desafio será equilibrar a influência dos segmentos mais radicais com a construção de um discurso moderado e voltado para soluções práticas. Já para a esquerda, o desafio está em consolidar avanços sociais e democráticos enquanto enfrenta resistências econômicas e políticas. A recuperação da economia será central para sustentar projetos progressistas, além de ampliar o diálogo com setores que historicamente não se alinharam à esquerda. O ano também traz a oportunidade de fortalecer bases populares e reconquistar territórios eleitorais perdidos em pleitos anteriores.
Cenas dos próximos capítulos
O ano de 2024 expõe, com clareza, as fragilidades e as forças da democracia brasileira. Enquanto os desafios institucionais persistem, também emerge a possibilidade de reconstrução política e social. O Brasil se encontra diante de uma encruzilhada em que o equilíbrio entre divergências e o fortalecimento da democracia serão cruciais para o futuro. Tanto a direita quanto a esquerda têm a responsabilidade de liderar com maturidade, buscando soluções que priorizem o bem comum e fortaleçam o pacto social.
Marcos Marinho – Professor e estrategista político