Por Marcos Marinho, especial para o Política e Cotidiano.
Com a proximidade das eleições de 2026, o campo das direitas brasileiras enfrenta um momento crucial de reflexão e reorganização. O desafio é construir um projeto competitivo capaz de enfrentar o PT, que, mesmo com os desgastes naturais do governo, conta com uma base eleitoral sólida e uma capacidade de articulação que é amplamente reconhecida. Para isso, as direitas precisam superar as divisões internas, afastar-se da pecha golpista associada ao bolsonarismo radical e identificar uma liderança que seja ao mesmo tempo unificadora e competitiva.
O bolsonarismo, que impulsionou a ascensão da direita brasileira em 2018, encontra-se em um momento de inflexão. Se por um lado ainda mobiliza uma parcela significativa do eleitorado, por outro enfrenta resistências crescentes devido às narrativas antidemocráticas e ao desgaste do ex-presidente Jair Bolsonaro, alvo de investigações que fragilizam sua viabilidade eleitoral. Esse histórico complica a construção de alianças mais amplas e limita o apelo junto a eleitores moderados, fundamentais para uma vitória em 2026.
Superar essa marca requer um reposicionamento claro e estratégico. A direita precisa demonstrar compromisso com a democracia e com soluções concretas para os problemas do país, evitando discursos polarizadores que alimentem a desconfiança do eleitorado indeciso. Ao mesmo tempo, é necessário não alienar a base bolsonarista, cuja mobilização é indispensável para garantir competitividade.
Encontrar um nome que mantenha unido o campo da direita é uma tarefa desafiadora. A figura de Jair Bolsonaro, embora ainda influente, não é mais unanimidade, mesmo entre seus apoiadores. Surge, portanto, a necessidade de uma liderança alternativa que possa conciliar os diferentes segmentos da direita, desde os conservadores e liberais clássicos até os setores mais pragmáticos do centrão.
Essa liderança não precisa necessariamente renegar Bolsonaro, mas deve se distanciar de suas controvérsias, priorizando uma agenda de futuro que dialogue com as demandas reais da população, como a geração de empregos, a segurança pública e a educação. Alguns nomes emergem como potenciais alternativas, desde governadores de perfil mais moderado até figuras de destaque no Congresso Nacional. Contudo, qualquer nome escolhido precisará equilibrar carisma, capacidade de articulação e um discurso que una o campo.
Qual o papel do centrão?
O centrão, com seu poder de influência crescente, tem o potencial de desempenhar um papel decisivo em 2026. Trata-se de um grupo heterogêneo, mas com ampla presença territorial e capacidade de mobilização local. No entanto, sua fragmentação intrínseca e a ausência de uma liderança nacional clara tornam difícil sua unificação em torno de um projeto coeso.
Além disso, o pragmatismo que caracteriza o centrão é uma espada de dois gumes: se, por um lado, ele permite uma flexibilidade na formação de alianças, por outro, pode gerar desconfiança em eleitores que buscam lideranças autênticas e projetos mais definidos. Assim, a ascensão de um candidato do centrão dependerá de sua capacidade de articular uma narrativa convincente e de superar o estigma de que representa apenas interesses locais ou corporativos.
Para disputar as eleições de 2026 com chances reais de vitória, as direitas brasileiras precisam abandonar a zona de conforto da polarização e investir em um projeto político que seja amplo, inclusivo e conectado às demandas do eleitorado. Isso implica em superar as divisões internas, afastar-se das pechas do passado e construir uma liderança que represente uma alternativa viável tanto para os bolsonaristas quanto para os eleitores moderados.
O momento também pode ser propício para a emergência de uma figura do centrão, mas essa opção só será bem-sucedida se houver um esforço de unificação em torno de um projeto nacional claro e inspirador. Caso contrário, o risco de fragmentação e derrota se torna ainda maior. O jogo de 2026 já começou, e o sucesso das direitas dependerá de sua capacidade de se reinventar e de conquistar a confiança do eleitorado.
Marcos Marinho – Professor e estrategista político