O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu reabrir o caso da morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek, em 1976, que é motivo de controvérsia. Em plena ditadura militar, JK morreu na Via Dutra, mas há diferentes versões sobre a causa da perda de controle do Opala em que estavam o político mineiro e seu motorista, Geraldo Ribeiro.
Segundo o jornal “Folha de S. Paulo”, a Comissão Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), que tem suporte do Ministério dos Direitos Humanos, tende a avalizar nesta sexta-feira (14) uma nova análise do episódio.
O que embasa o movimento é um laudo do engenheiro e perito Sergio Ejzenberg, contratado pelo Ministério Público Federal e finalizado em 2019. O laudo desconstrói os anteriores e rejeita a ideia de que o desastre tenha sido causado por uma colisão do Opala com um ônibus, antes do carro se chocar com uma carreta.
Dado que a lei que criou a comissão, de 1995, determinava prazos — já expirados — para a produção de requerimentos, a reabertura tende a ser justificada sob a alegação de esclarecimento da verdade histórica. Não haverá nenhum tipo de indenização financeira, seja qual for o resultado da investigação.
Ao longo dos anos, diferentes versões tentaram explicar o que aconteceu com o Opala de JK naquele 22 de agosto de quase 50 anos atrás. A controvérsia está no momento que antecedeu o choque com a carreta que estava no sentido oposto da Dutra.
A ditadura disse que foi um acidente. Afirmou que o carro havia sido atingido por um ônibus quando tentou ultrapassá-lo — a mesma tese foi defendida pela Comissão Nacional da Verdade, em 2014.
Já as Comissões Estaduais da Verdade de São Paulo e Minas Gerais, além da municipal paulistana, alegaram que se tratou de um atentado político. Para comprová-la, reuniram indícios de que não houve batida com o ônibus e apontaram que o carro perdeu o controle por causa de uma ação externa, que poderia ser uma sabotagem mecânica, tiro ou envenenamento do motorista.
As conclusões
Em 2014, quando divulgou o relatório final dos trabalhos, a Comissão Nacional da Verdade informou ter decidido apurar as suspeitas de que a morte de JK poderia ter sido vítima de “assassinato político”.
Relembrou, no documento, que três procedimentos investigatórios à época “concluíram pela inexistência de prova de crime doloso contra a vida do ex-presidente, e que a morte foi causada por acidente automobilístico”.
Mesmo assim, ressaltou a comissão, foram analisados documentos, perícias técnicas, fotos e depoimentos, o que levou o grupo à seguinte conclusão no relatório final:
“Não há nos documentos, laudos, depoimentos e fotografias analisados até o momento, qualquer elemento material que, sequer, sugira que o ex-presidente Juscelino Kubitschek e o motorista Geraldo Ribeiro tenham sido assassinados, vítimas de homicídio doloso.”
Entendimento diferente
Três anos depois, em 2017, a Comissão da Verdade em Minas Gerais também concluiu seus trabalhos e chegou a um entendimento diferente.
Ao mencionar o caso da morte de JK, disse que o episódio “continua sendo alvo de inúmeras polêmicas”, além de “controvérsias”.
Diante disso, informou ter feito consultas bibliográficas, analisado conteúdos e elementos que pudessem sinalizar “fatos ou comprovações relevantes nas investigações” e conclusões de órgãos de investigação.
Também foram verificados e analisados, segundo a comissão mineira, os documentos contidos nos processos judiciais envolvendo o caso. “Todo o material serviu para elaboração comparativa e textual”, disse à época.
E concluiu: “Considerando o contexto da época, as distintas contradições das avaliações periciais, os depoimentos e pareceres jurídicos pode-se afirmar que é plausível, provável e possível que as mortes tenham ocorrido devido a atentado político.”
O acidente
Juscelino Kubitschek morreu em um acidente de carro em agosto de 1976, na rodovia Presidente Dutra, quando viajava de São Paulo para o Rio de Janeiro.
O acidente ocorreu na altura da cidade de Resende (RJ). O veículo Chevrolet Opala, que conduzia Juscelino e seu motorista, Geraldo Ribeiro, invadiu a pista contrária e colidiu com um caminhão, após ter sido atingido por um ônibus. O acidente resultou na morte do ex-presidente e de seu motorista.
Ao longo dos anos diversas teorias sugeriram que o acidente poderia ter sido um atentado político, especialmente considerando o contexto da ditadura militar no Brasil.
JK ficou conhecido pela transferência da capital do país para Brasília e pelo projeto de modernização pela aceleração do processo de industrialização, conhecido como “50 anos em 5”.
Após deixar a presidência da República, foi eleito senador e tomou posse já em 1961. Com a eclosão do golpe militar de 1964, JK teve os direitos políticos cassados.