A delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, trouxe à tona detalhes sobre um grupo radical que defendia a ruptura democrática e um golpe de Estado após a derrota nas eleições de 2022. Entre os integrantes desse grupo estavam a primeira-dama Michele Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o então comandante da Marinha, almirante Garnier Santos, além de outros aliados próximos do ex-presidente.
Segundo Cid, o grupo era dividido em dois subgrupos: um menos radical, que buscava provas de fraude nas urnas, e outro mais extremista, que defendia abertamente a intervenção militar. Entre os nomes citados estão o ex-ministro do Turismo Gilson Machado, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazzuello, o ex-deputado Onyx Lorenzoni e o major da reserva do Exército Ângelo Martins Denicoli. O presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, também é mencionado como parte do grupo.
Plano de intervenção militar
Cid revelou que o grupo mais radical chegou a elaborar um documento, redigido pelo ex-assessor internacional Filipe Martins, que defendia a prisão de autoridades como os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, além do então presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). O plano incluía a realização de novas eleições.
Em uma reunião no Palácio da Alvorada, em 7 de dezembro de 2022, Bolsonaro teria apresentado a proposta de intervenção aos comandantes das Forças Armadas. O almirante Garnier Santos teria se mostrado favorável à ação, mas condicionou a intervenção ao apoio do Exército. Já o então comandante da Aeronáutica, brigadeiro Batista Júnior, foi categórico em sua oposição ao golpe. O general Freire Gomes, comandante do Exército, adotou uma posição intermediária, rejeitando a ruptura, mas criticando a condução do processo eleitoral.
Defesas e críticas
As defesas dos acusados negam as acusações. O advogado de Bolsonaro, Paulo Cunha Bueno, afirmou que o ex-presidente “jamais compactuou com qualquer movimento que visasse a desconstrução do Estado Democrático de Direito”. Já o advogado de Filipe Martins classificou o documento citado na delação como uma “minuta fantasma”, sem provas concretas.
O senador Luiz Carlos Heinze (PP-RS) afirmou que a denúncia é “fruto de perseguição política” e carece de provas. Os senadores Magno Malta (PL-ES) e Jorge Seif (PL-SC) também alegaram que o processo é uma tentativa de minar a direita por meios judiciais.
Contexto e próximos passos
A delação de Mauro Cid é um dos pilares da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Bolsonaro e outras 33 pessoas por tentativa de golpe de Estado. O caso deve ser julgado pelo STF ainda em 2025, em um processo que promete acirrar ainda mais a polarização política no país.
Enquanto a oposição vê na delação a confirmação de um plano golpista, os aliados de Bolsonaro classificam as acusações como uma perseguição política. O desfecho do caso pode ter impactos significativos no cenário político brasileiro, especialmente com as eleições municipais de 2026 no horizonte.
Com informações da Agência Brasil.