Um dia após a reunião no Paço Municipal entre o prefeito de Goiânia, Sandro Mabel, e vereadores, o plenário da Câmara Municipal foi palco de um embate nesta quarta-feira (12/03). O ponto central da discussão foi a falta de clareza sobre os convites e a pauta do encontro, que tinha como planejamento principal tratar do plano de recuperação financeira da Comurg (Companhia de Urbanização de Goiânia).
Na terça-feira (11/03), o prefeito cancelou uma visita agendada à Câmara e convocou uma reunião às 16h no Paço Municipal. Dos 37 vereadores, 29 compareceram, incluindo membros da base aliada e da oposição. No entanto, a falta de transparência sobre quem foi convidado e o objetivo do encontro gerou mal-estar entre os parlamentares.

Durante a sessão de hoje, a vereadora Aava Santiago (PSDB) questionou a condução da reunião. Em entrevista, ela destacou que, embora o prefeito tenha o direito de convidar apenas sua base aliada, é fundamental que isso seja comunicado de forma clara. “Quem acompanha a Câmara sabe que eu não faço questão de receber convites para reuniões da base. Mas isso precisa ser dito com transparência”, afirmou.
Aava também criticou a mudança de agenda, que transformou um encontro entre os Poderes Executivo e Legislativo em uma reunião fechada. “Quando o prefeito muda a agenda e deixa de ser uma reunião entre dois poderes independentes para ser uma ‘reuniaozinha’ da base, isso precisa ser comunicado. E não foi”, disse.
A falta de consenso entre os vereadores que participaram da reunião também foi destacada. “Uns disseram hoje que: ‘era um convite para a base’. Outros afirmavam: ‘não, eu fui e não é da base’. Então, nem entre os que estiveram lá há clareza sobre o propósito do encontro”, reforçou Aava.
A vereadora ainda ressaltou a importância de transparência em assuntos de interesse público, como o plano de recuperação financeira da Comurg. “Se era uma reunião sobre a Comurg, a imprensa deveria estar lá, os vereadores deveriam ser convidados, porque isso não é só de interesse do prefeito, mas de toda a sociedade goianiense”, afirmou Aava Santiago.
A vereadora Kátia (PT), da oposição, também usou a tribuna para rebater as declarações do prefeito Sandro Mabel, que afirmou que a oposição “só quer criticar” e que não convidou “quatro ou cinco vereadores” para a reunião sobre a Comurg porque “eles não têm interesse no assunto”. Kátia destacou que sua atuação vai além das críticas e que seu compromisso é buscar soluções para os problemas da cidade.

“Essa carapuça não serve para mim”, respondeu Kátia. “Mesmo antes de Mabel assumir a prefeitura, fui eu quem alertou que Goiânia estava prestes a perder recursos federais para as escolas de tempo integral e trabalhei para salvá-los. Também fui responsável por trazer a ministra Cida Gonçalves (Mulheres) para repactuar a continuidade das obras da Casa da Mulher Brasileira, enfrentando uma diligência do TCU. Além disso, trouxe a ministra Macaé (Direitos Humanos) para discutirmos a situação da população em situação de rua e destinei mais de R$ 1 milhão em emendas para essa pauta. E mais: sou a única vereadora que colocou emendas para todas as UPAs, todos os CAPS e todos os Cais da cidade.”
A parlamentar reforçou que faz oposição à atual gestão, mas de forma “séria e responsável”, sem buscar cargos ou espaço na prefeitura. “Apontamos erros, falhas e omissões, mas também buscamos soluções e recursos junto ao governo federal, porque representamos o governo Lula”, afirmou.
Kátia também criticou a postura do prefeito e sugeriu um debate mais qualificado. “Convido Mabel a uma discussão madura, e não a adotar a lógica da extrema direita, que evita argumentos e tenta apenas desqualificar a oposição”, disparou. “Sua gestão é uma continuidade da anterior e, até agora, não apresentou mudanças significativas. Não vou me omitir, seguirei fazendo um debate sério.”
O embate reflete os “ruídos” nas relações entre o prefeito e os vereadores, tanto da base aliada quanto da oposição, como admitido pelo próprio Sandro Mabel. A falta de diálogo e transparência tem sido um ponto de atrito, especialmente em temas sensíveis, como a gestão financeira da Comurg, empresa que presta serviços essenciais à população de Goiânia.
O caso deve continuar gerando discussões nos próximos dias, à medida que vereadores e a imprensa cobram mais clareza sobre as decisões tomadas em reuniões fechadas e seu impacto na administração pública.
Por: Jéssica Neves