Após quase um ano de investigações, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas aprovou, nesta quarta-feira (19), o relatório final, encerrando os trabalhos do colegiado. O documento, elaborado pelo relator senador Romário (PL-RJ), pede o indiciamento dos empresários William Pereira Rogatto e Thiago Chambó Andrade, além de Bruno Tolentino, tio do jogador de futebol Lucas Paquetá. O relatório foi aprovado com apenas um voto contrário, do senador Girão (Novo-CE).
Indiciamentos e investigações
O relatório final da CPI aponta que Bruno Tolentino, tio de Lucas Paquetá, está envolvido em movimentações financeiras suspeitas relacionadas a apostas esportivas. O jogador, que atua pelo West Ham na Inglaterra, foi acusado pela Federação Inglesa de Futebol (FA) em maio de 2024 de cometer faltas propositais durante partidas para beneficiar apostadores previamente informados. Paquetá nega as acusações, mas o relatório da CPI sugere que seu tio integra uma lista de apostadores investigados.
Outro nome destacado no relatório é o do empresário Bruno Lopez de Moura, que admitiu aos membros da CPI participar de esquemas de manipulação de jogos. Moura afirmou ter recebido informações privilegiadas sobre partidas em que Paquetá atuou e nas quais ele apostou. No entanto, ele não foi indiciado devido a um acordo de não persecução com o Ministério Público.
William Rogatto, considerado um dos maiores manipuladores de resultados do Brasil, foi preso pela Interpol em novembro de 2024 em Dubai, onde permanece detido. Em depoimento à CPI, Rogatto se descreveu como uma “ferramenta” para facilitar a manipulação de resultados. Já Thiago Chambó Andrade, acusado de integrar uma organização criminosa voltada à corrupção em competições esportivas, não compareceu às convocações para depor.
Propostas legislativas
O relatório da CPI também traz uma série de propostas legislativas para combater a manipulação de resultados e fraudes no mercado de apostas. Entre as principais recomendações estão:
- Emenda constitucional para obrigar qualquer cidadão, incluindo autoridades públicas, a atender convocações de CPIs.
- Tipificação do crime de fraude ao mercado de apostas, atualmente inexistente na legislação brasileira.
- Suspensão ou banimento de atletas condenados por envolvimento em esquemas de manipulação.
- Limitação das apostas simples (single bets), modalidade que facilita a manipulação de resultados por permitir apostas em eventos específicos, como faltas ou pênaltis.
O relator Romário destacou que as single bets, embora atraiam mais apostadores, são mais vulneráveis à manipulação. “Quanto mais atrativos os produtos de apostas se tornam, mais fácil fica prever o resultado e mais facilmente podem ser explorados para manipulação”, afirmou.
Próximos passos
Com a aprovação do relatório, toda a documentação produzida pela CPI será encaminhada à Polícia Federal e ao Ministério Público da União para prosseguimento das investigações. As informações também serão compartilhadas com a Casa Civil e os ministérios da Fazenda, da Justiça, do Esporte e da Saúde, para adoção de medidas específicas.
Contexto e impacto
A CPI da Manipulação de Jogos e Apostas foi instaurada em meio a denúncias de esquemas de corrupção e manipulação de resultados no futebol brasileiro e internacional. O relatório final alerta para o “momento delicado e preocupante” do futebol no país, com a integridade do esporte sendo constantemente questionada.
A aprovação do relatório marca um passo importante no combate à manipulação de jogos, mas também evidencia a necessidade de aprimoramentos na legislação e na fiscalização do mercado de apostas. As propostas apresentadas pela CPI buscam garantir maior transparência e segurança no setor, além de proteger a integridade das competições esportivas.
Repercussão
A CPI gerou ampla repercussão no meio esportivo e político, especialmente pelo envolvimento de nomes como Lucas Paquetá e empresários influentes no futebol. A expectativa é que as investigações continuem avançando, com possíveis desdobramentos jurídicos e impactos no cenário do futebol nacional e internacional.
Com informações da Agência Senado