Uma pesquisa realizada pelo Instituto Patrícia Galvão e pelo Ipec, com apoio do Ministério das Mulheres, revelou que 89% dos brasileiros gostariam de ver mais mulheres candidatas nas próximas eleições. No entanto, 78% acreditam que a quantidade de mulheres na política não faz diferença, pois políticos, independentemente do gênero, devem trabalhar para toda a população. O estudo, intitulado “Por Mais Mulheres na Política”, entrevistou 2.000 pessoas em 129 municípios e destacou a importância da presença feminina nos espaços de poder, ao mesmo tempo em que apontou barreiras significativas para sua participação efetiva.
Reconhecimento e desafios
A pesquisa mostrou que, embora a maioria dos brasileiros reconheça a importância da participação feminina na política, muitos ainda enxergam desafios estruturais. Para Flávia Biroli, professora titular do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), as duas posições não são contraditórias. “Elas podem conviver nesse universo dos valores políticos, porque há uma percepção de que as mulheres podem, sim, fazer política e ser representantes. Mas, uma vez eleitas, espera-se que representem todos, independentemente do gênero”, explicou.
Biroli destacou a importância da “representação descritiva”, que leva em conta a história e a perspectiva das pessoas eleitas. “Ter mulheres, negros, LGBTs, trans e pessoas pobres na política pode significar que suas trajetórias e experiências sejam levadas em conta de maneira mais central”, afirmou. Ela citou como exemplo a sensibilidade necessária para temas como creches e escolas em tempo integral, que podem não ser prioridades para políticos que não vivenciam essas necessidades.
Barreiras para as mulheres na política
Apesar do apoio à presença feminina, 77% dos entrevistados acreditam que as mulheres não são incentivadas desde jovens a se interessar por política. Além disso, 84% afirmam que elas sofrem discriminação e deveriam receber mais apoio para ingressar na vida pública. Entre os principais obstáculos apontados estão:
- Assédio e ataques machistas (41%);
- Falta de apoio da família, de políticos e partidos (31%);
- Dificuldade de conciliar emprego, família e política (27%).
A pesquisa também revelou que 96% dos brasileiros votariam ou considerariam votar em uma mulher para cargos públicos importantes, enquanto apenas 3% afirmam que não votariam de forma alguma. Entre os motivos para escolher candidatas, 36% destacam a maior capacidade de organização das mulheres, 34% ressaltam a importância de sua participação na vida pública e 30% afirmam que elas priorizam temas como saúde, educação e segurança.
Impacto da presença feminina no poder
A população acredita que a presença feminina no poder traria avanços em áreas essenciais. 74% apontam a saúde como a principal beneficiada, seguida pela educação (63%). Outras áreas mencionadas incluem segurança (18%), trabalho (11%) e cultura (7%).
Por outro lado, entre os que relutam em votar em mulheres, 25% acreditam que a política é muito agressiva para elas, enquanto o mesmo percentual considera que elas são mais emotivas e tomam decisões com o coração em vez da razão. Além disso, 16% afirmam que as mulheres não suportam a pressão política, e 14% dizem que elas têm dificuldades em lidar com questões técnicas.
Apoio a cotas e medidas de representatividade
A maioria dos entrevistados (59%) é favorável à lei que estabelece cotas mínimas para candidaturas femininas ao Legislativo, enquanto 86% defendem uma cota mínima de mulheres eleitas. Além disso, 80% acreditam que partidos que descumprirem a legislação de cotas deveriam ser punidos, e 73% afirmam que partidos que concorrem apenas com homens deveriam disputar menos vagas.
No entanto, alguns entrevistados se opõem às cotas, argumentando que homens e mulheres devem concorrer em condições iguais (66%). Outros apontam que os partidos burlam as cotas com candidaturas fictícias ou não oferecem apoio adequado às candidatas.
Conclusão
A pesquisa reforça que, embora a população brasileira reconheça a importância da participação feminina na política, ainda há desafios significativos a serem superados. Jacira Melo, diretora-executiva do Instituto Patrícia Galvão, destacou que “a boa notícia é que brasileiras e brasileiros querem ver mais candidaturas de mulheres nas próximas eleições. É preciso estimular e apoiar as mulheres a participarem da vida política para que consigam acesso a cargos de poder e decisão e possam contribuir para o avanço da política brasileira”.
A pesquisa serve como um alerta para a necessidade de políticas públicas e ações concretas que promovam a igualdade de gênero na política, garantindo que as mulheres tenham oportunidades reais de participação e liderança.