*Destaque, Opinião, Política A escolha da roupa de Bolsonaro para seu julgamento se comunica com o inconsciente coletivo

Análise, por Lívia Mesquita – Estrategista de Imagem Visual.

Terça-feira (25 de março de 2025), teve início o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de liderar uma trama golpista durante seu governo. Mais do que um simples detalhe, a escolha de sua vestimenta para a ocasião se tornou um elemento estratégico de comunicação, reforçando sua narrativa política e ativando arquétipos que ressoam com sua base de apoio.

Bolsonaro compareceu ao julgamento vestindo um terno azul-marinho de corte tradicional, um clássico do guarda-roupa político que transmite seriedade e autoridade. No entanto, foram os detalhes na lapela que realmente carregaram as mensagens mais simbólicas.

O elemento mais marcante de sua indumentária foi o uso da Medalha do Pacificador com Palma, uma honraria concedida a militares por atos de coragem e bravura com risco de vida. Esse símbolo reforça o arquétipo do herói mártir, que se sacrifica pelo país e enfrenta adversidades de cabeça erguida.

A escolha da medalha não foi aleatória. Somada à decisão de comparecer presencialmente ao STF e sentar-se na primeira fileira, no centro da sala, Bolsonaro reforçou a narrativa de um líder que não se esconde, que encara seus adversários de frente e que está disposto a lutar até o fim – um discurso que fortalece sua conexão emocional com seus seguidores.

Outro detalhe significativo foi o bordado da bandeira do Brasil na lapela, elemento que aparentemente indica que Bolsonaro usou o mesmo traje da posse presidencial de 2019. Essa escolha carrega um simbolismo poderoso: ao repetir a roupa, ele remete ao momento em que alcançou seu maior triunfo político, reforçando a mensagem de que ainda se orgulha do que representou para o país.

A repetição da vestimenta também evoca o arquétipo do “cara comum”, aquele que não se preocupa com ostentação ou grifes de luxo.

O próprio Bolsonaro, ao ser questionado sobre a origem do terno em 2019, respondeu que foi um presente do estilista carioca Santino Gonçalves, dizendo: “De graça, né? Até injeção na testa”. A frase reforça sua imagem de alguém que não se rende ao luxo e à ostentação – um discurso alinhado ao que sua base espera.

A estratégia de repetição já foi utilizada por outros políticos, como o presidente Lula, que em diversas ocasiões repetiu sua famosa “gravata pátria amada” (verde e amarela), resgatando momentos emblemáticos de sua trajetória.

A repetição de elementos visuais em momentos estratégicos não é um mero acaso. Na política, símbolos são utilizados para ativar a memória afetiva do eleitorado e reforçar discursos. Essa técnica de ressignificação da imagem é amplamente utilizada para manter a conexão emocional com a base e reforçar narrativas políticas.

A escolha da gravata do ministro do STF Alexandre de Moraes também gerou repercussão. Ele usou uma gravata com estampas de dragões soltando fogo em coelhos, o que rapidamente foi interpretado por internautas como um símbolo de resposta da democracia contra aqueles que tentaram incendiá-la. Outros ainda sugeriram que a estampa representava o ministro enfrentando seus opositores no tribunal.

Na política, tudo comunica. A roupa, os acessórios e até as cores escolhidas carregam mensagens que ativam o inconsciente coletivo. Seja para reforçar um arquétipo, resgatar um momento de glória ou provocar uma reação emocional, cada elemento visual é parte de uma estratégia maior.

Bolsonaro, mais uma vez, demonstrou um domínio cuidadoso da construção de sua marca pessoal. Sua gestão de imagem é tão bem planejada que passa a impressão de espontaneidade – um traço essencial para quem busca influência e fidelização do eleitorado.

No jogo político, a comunicação não verbal pode ser tão poderosa quanto os discursos. Afinal, a imagem não apenas reflete um posicionamento, mas o constrói.

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