Aliados do ex-presidente veem ameaça de restrições ao uso das redes sociais, mesmo sem condenação definitiva, enquanto cresce tensão com o STF
A convicção de que Jair Bolsonaro será condenado no processo que investiga a trama golpista já existe entre seus aliados há algum tempo. Agora, porém, surgiu um novo temor: a possibilidade de Bolsonaro ser obrigado a se afastar das redes sociais, mesmo que a prisão seja domiciliar. Isso representa uma ameaça significativa à sua estratégia de influenciar o debate público e mobilizar apoiadores.
“Moraes criou o exílio virtual. Vão tentar silenciar o Bolsonaro nas redes, matá-lo civilmente”, disse um interlocutor do ex-presidente com bom trânsito no meio jurídico.
A prática de restringir o uso de redes sociais já foi adotada por Alexandre de Moraes em outros casos. Um exemplo é o da cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, que pichou a frase “Perdeu, mané” na estátua da Justiça em frente ao STF. Ela foi condenada a 14 anos de prisão, em abril, pelos mesmos crimes que Bolsonaro enfrenta, como tentativa de abolição violenta do Estado de Direito, golpe de Estado, dano qualificado e deterioração do patrimônio tombado.
Aliados do ex-presidente temem que restrições semelhantes sejam impostas antes mesmo de uma eventual condenação, devido à tensão gerada pelas iniciativas do governo Trump de investigar autoridades estrangeiras por suposta violação da liberdade de expressão.
A abertura de um inquérito contra Eduardo Bolsonaro, articulado por Alexandre de Moraes para investigar coação e colaboração com Trump, reforçou o receio de que Jair Bolsonaro seja alvo de prisão preventiva ou de bloqueio de bens. Se isso acontecer, a proibição de usar as redes sociais também parece inevitável para aliados.
Nas campanhas de 2018 e 2022, Bolsonaro usou suas contas no X (antigo Twitter) e no Instagram — que reúnem, respectivamente, 13,9 milhões e 26,6 milhões de seguidores — como principal ferramenta de comunicação. São números bem maiores do que os de Lula: 9,5 milhões no X e 13,2 milhões no Instagram.
Por isso, para Bolsonaro, perder o acesso a esses canais de comunicação pode ser ainda mais impactante do que a prisão em si.
Ele vai depor no inquérito na próxima quinta-feira (5) e já admitiu que financia as despesas do filho Eduardo nos EUA, o que poderia torná-lo cúmplice caso Eduardo seja condenado lá fora. Segundo pessoas próximas, Moraes poderia decidir por medidas restritivas já após o depoimento.
Para aliados, o temor não é apenas a prisão, mas também a perda do principal palanque digital que Bolsonaro ainda tem à disposição.
Com informações do O Globo
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