*Destaque, Brasil Brics: mais de 40% da população mundial e 37% do PIB global

Grupo busca reformar a governança global e consolidar sua influência internacional

Criado em 2009, o Brics, inicialmente composto por Brasil, Rússia, Índia e China, e expandido em 2011 com a entrada da África do Sul, tornou-se uma das alianças internacionais mais relevantes no século XXI. Em 2023, o grupo deu um passo ousado ao anunciar a adesão de cinco novos países: Irã, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Arábia Saudita, ampliando sua representatividade global. Com esses novos integrantes, o Brics passou a englobar mais de 40% da população mundial e 37% do PIB global, medido pela paridade do poder de compra (PPC), segundo dados do Fórum Econômico Mundial.

A força econômica e política do Brics

Além de seu peso demográfico e econômico, o Brics destaca-se por sua influência no comércio e na energia global. Os países do grupo detêm 26% do comércio mundial, 44% das reservas de petróleo e 53% das reservas de gás natural, segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o Ministério de Minas e Energia (MME) do Brasil. Também são responsáveis por 43% da produção global de petróleo e 35% da produção de gás natural.

Outros recursos estratégicos estão concentrados no Brics, como 72% das reservas globais de terras raras e 70% da produção mundial de carvão mineral. Rússia e Brasil, juntos, possuem as maiores reservas de água doce do planeta, consolidando ainda mais a relevância do grupo no cenário internacional.

Em termos militares, o bloco reúne três potências nucleares (Rússia, China e Índia), adicionando um componente estratégico à sua atuação global.

Origem e objetivos reformistas

O acrônimo “Bric” foi criado pelo economista Jim O’Neill, em 2001, para identificar mercados emergentes promissores. Contudo, o grupo ganhou contornos políticos e estratégicos após a crise financeira global de 2008, quando os membros decidiram se reunir anualmente para buscar uma reforma na governança global.

“O Brics surgiu em um momento de fragilidade econômica do Ocidente, liderado pelos Estados Unidos e pela União Europeia, e trouxe à tona a necessidade de um sistema mais equilibrado”, explica Evandro Carvalho, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Desde sua primeira cúpula, o Brics defende a reforma de instituições como a Organização das Nações Unidas (ONU), o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, buscando maior representatividade para os países do Sul Global.

Iniciativas e desafios

Entre os avanços concretos, destaca-se a criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), em 2014, que financia projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável em países emergentes. Além disso, o grupo promove o uso de moedas locais em transações comerciais, reduzindo a dependência do dólar norte-americano.

Apesar de sua força, o Brics enfrenta limitações, como a ausência de uma estrutura institucional robusta, o que dificulta a coordenação de iniciativas e a transparência. Há também divergências entre os membros em questões como mudanças climáticas, pandemias e conflitos internacionais, como a guerra na Ucrânia.

“O Brics não é um bloco econômico formal, mas sim um foro de concertação política e geopolítica. Seus membros têm interesses distintos e, muitas vezes, conflitantes”, analisa Pedro Dallari, diretor do Instituto de Relações Internacionais da USP.

O simbolismo do Brics

Apesar das limitações, o grupo ganhou relevância como uma voz do Sul Global, defendendo uma ordem mundial mais inclusiva e multipolar. “O Brics representa uma alternativa ao modelo ocidental de governança e reforça a importância dos países em desenvolvimento no cenário internacional”, avalia Marta Fernández, diretora do Brics Policy Center.

Com recursos naturais abundantes, uma população crescente e iniciativas que desafiam a hegemonia do dólar, o Brics continua a se posicionar como um ator-chave no futuro da governança global. Mesmo com suas contradições internas, o grupo consolida-se como um espaço essencial para o diálogo e a redefinição do equilíbrio de poder no mundo.

Fontes: Fórum Econômico Mundial, Itamaraty, OMC, Ministério de Minas e Energia.

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