Os líderes dos 27 países da União Europeia (UE) reuniram-se nesta quinta-feira (6) em Bruxelas para uma cúpula extraordinária sobre a Ucrânia, com o objetivo de reforçar a defesa europeia e ampliar o apoio financeiro e militar ao país, que enfrenta a invasão russa há três anos e duas semanas. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, participou do encontro, que ocorre em um momento de tensões entre o governo norte-americano e a Ucrânia, após um recente confronto entre Zelensky e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
A reunião visa consolidar um plano para tornar a Europa “mais soberana, autônoma e equipada” na área de defesa e segurança, complementando os esforços da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Os líderes europeus discutem medidas para mobilizar até € 800 bilhões em investimentos, incluindo um fundo de € 150 bilhões para empréstimos aos governos da UE, com o objetivo de fortalecer a capacidade militar do bloco.
Plano “Rearmar a Europa”
A Comissão Europeia, liderada por Ursula von der Leyen, apresentou um plano baseado em cinco pilares financeiros:
- Um novo instrumento para circunstâncias extraordinárias, semelhante ao criado durante a pandemia de covid-19.
- A ativação de uma cláusula de salvaguarda para permitir aumento de despesas militares sem impactar o déficit público.
- A realocação de verbas de outros fundos, como os de Coesão.
- Financiamento do Banco Europeu de Investimento.
- Captação de capital privado.
Entre 2021 e 2024, os gastos militares dos Estados-membros da UE aumentaram mais de 30%, atingindo € 326 bilhões, o equivalente a 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) do bloco. No entanto, países como França, Itália e Espanha enfrentam críticas por não contribuírem proporcionalmente ao tamanho de suas economias, enquanto nações nórdicas e bálticas pressionam por maior engajamento.
Apoio à Ucrânia e desafios políticos
Desde o início da guerra em fevereiro de 2022, a UE e seus Estados-membros já disponibilizaram quase € 135 bilhões em apoio à Ucrânia, incluindo € 49 bilhões em assistência militar. Agora, o bloco busca garantir pelo menos € 30 bilhões adicionais em 2025, mantendo o nível de ajuda oferecido em 2024.
No entanto, a Hungria, liderada pelo primeiro-ministro Viktor Orbán, aliado de Trump e do Kremlin, ameaça vetar a proposta. Em carta enviada ao presidente do Conselho Europeu, António Costa, Orbán afirmou que há “diferenças estratégicas na nossa abordagem em relação à Ucrânia que não podem ser ultrapassadas”.
Zelensky e a busca por garantias de segurança
Zelensky, que participou da cúpula, agradeceu o apoio europeu e destacou a necessidade de “garantias de segurança fortes e de longo prazo” para a Ucrânia. Em discurso recente no Palácio do Eliseu, o presidente francês, Emmanuel Macron, reforçou que “o caminho para a paz não pode passar pelo abandono da Ucrânia” e defendeu o envio de forças europeias para garantir o cumprimento de um eventual acordo de paz.
Macron também anunciou investimentos adicionais na defesa europeia sem aumentar impostos e abriu o debate sobre a possibilidade de a França, única potência nuclear da UE, estender sua proteção nuclear aos aliados europeus. “A ameaça russa está aí e nos afeta, sem conhecer fronteiras”, afirmou o presidente francês.
Contexto internacional e próximos passos
A cúpula ocorre em um momento de incertezas geopolíticas, com os EUA reduzindo seu apoio militar à Ucrânia e buscando negociar diretamente com a Rússia. A UE, por sua vez, busca consolidar sua autonomia estratégica e garantir que a Ucrânia tenha condições de negociar uma paz justa e duradoura.
Enquanto os líderes europeus discutem medidas concretas, a pressão sobre Zelensky para aceitar um acordo de cessar-fogo aumenta. No entanto, o presidente ucraniano insiste que qualquer solução deve incluir garantias de segurança robustas e um compromisso de longo prazo com a soberania do país.
A reunião em Bruxelas marca um esforço conjunto para fortalecer a defesa europeia e reafirmar o apoio à Ucrânia, em um contexto global cada vez mais desafiador.