O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou nesta quarta-feira (5) o plano do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de assumir o controle da Faixa de Gaza, classificando a proposta como “praticamente incompreensível”. Durante entrevista a rádios de Minas Gerais, Lula voltou a acusar Israel de cometer genocídio com o apoio dos EUA e reforçou a defesa da criação de um Estado Palestino.
Críticas à proposta de Trump
Lula questionou a lógica da ocupação norte-americana em Gaza e ressaltou a necessidade de autonomia palestina no território.
“Os EUA participaram do incentivo a tudo que Israel fez na Faixa de Gaza. Então, não faz sentido se reunir com o presidente de Israel e dizer: ‘nós vamos ocupar Gaza, vamos recuperar Gaza, vamos morar em Gaza’. E os palestinos vão para onde, onde vão viver? Qual o país deles?”, disse o presidente.
O presidente brasileiro criticou a postura de Washington e reiterou que os palestinos devem ser os responsáveis pela reconstrução da Faixa de Gaza. “O que aconteceu em Gaza foi um genocídio, e eu sinceramente não sei se os Estados Unidos, que fazem parte de tudo isso, seriam o país para tentar cuidar de Gaza. Quem tem que cuidar de Gaza são os palestinos. O que eles precisam é ter uma reparação de tudo aquilo que foi destruído, para que possam reconstruir suas casas, hospitais, escolas, e viver dignamente com respeito”, afirmou.
Lula ainda destacou a importância da criação de um Estado Palestino como solução para o conflito. “É por isso que nós defendemos a criação do Estado Palestino, igual ao Estado de Israel, e estabelecer uma política de convivência harmônica, porque é disso que o mundo precisa. O mundo não precisa de arrogância, de frases de efeito. O mundo precisa de paz e tranquilidade”, completou.
Críticas ao papel dos EUA na política internacional
O presidente brasileiro criticou o papel dos Estados Unidos no cenário global e afirmou que o país, historicamente autoproclamado como símbolo da democracia, tem incentivado conflitos em vez de buscar a paz.
“Os EUA foram vendidos como o símbolo da democracia mundial, se autodeterminaram como juiz do planeta. Uma fábula de dinheiro é gasta com armamento todo santo dia. Não pode mudar agora repentinamente do país que vendia a ideia da paz para o país que vende a ideia da provocação, da discordância”, afirmou.
Repatriação de brasileiros deportados
Ainda na entrevista, Lula abordou a questão dos brasileiros deportados dos Estados Unidos. Segundo ele, um novo voo de repatriação está previsto para chegar na próxima sexta-feira (7). O governo brasileiro está trabalhando para melhorar as condições de recepção desses imigrantes.
“Aí, nós vamos ver quantas pessoas têm, de que estado são, para a gente poder cuidar quando chegar aqui. Estamos conversando com o Itamaraty e com a Polícia Federal, para que a gente possa ter todos esses dados ainda na Louisiana, onde eles embarcam, para que a gente possa se preparar”, explicou Lula.
Posição sobre disputas comerciais
O presidente brasileiro também foi questionado sobre as disputas comerciais e territoriais iniciadas por Trump desde sua posse em 20 de janeiro. Lula afirmou que “os EUA também precisam do mundo” e que Trump precisará aprender a “conviver harmonicamente com Brasil, México, China”.
“Você tem um tipo de político que vive de bravata. O presidente Trump fez a campanha assim, tomou posse e já anunciou ocupar a Groenlândia, anexar o Canadá, mudar o nome do Golfo do México para Golfo da América, retomar o Canal do Panamá. Nenhum país pode brigar com todo mundo todo o tempo”, disse Lula.
O presidente brasileiro reafirmou que, se Trump levar adiante a ideia de aumentar a taxação sobre produtos brasileiros, o Brasil responderá com medidas de reciprocidade.
“É o mínimo de decência, usar a lei da reciprocidade. Para nós, o que seria importante é os EUA baixarem a taxação e nós baixarmos a taxação. Mas se ele ou qualquer país aumentar a taxação com o Brasil, nós iremos usar a reciprocidade. Iremos taxar eles também. É simples e é muito democrático”, afirmou.
Para Lula, a postura isolacionista dos Estados Unidos não é sustentável e prejudica as relações internacionais. “Os EUA estão se isolando do mundo. E isso não é importante, nem para eles nem para o mundo. Como que a gente vai prescindir de um país do tamanho da China, da Índia, da Rússia, do México, dos países africanos? É preciso bom senso”, concluiu.