Deputada federal denuncia violência política contra mulheres e afirma que tentativas de silenciar vozes femininas não terão sucesso
A deputada federal Adriana Accorsi (PT-GO), vice-presidente da Comissão dos Direitos da Mulher na Câmara dos Deputados, publicou um artigo em repúdio à crescente onda de violência contra mulheres que ocupam posições de poder. Entre as vítimas citadas estão a deputada estadual Bia de Lima, a vereadora Luciana Tinoco, a deputada federal Jandira Feghali e, mais recentemente, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, alvo de declarações machistas durante uma audiência no Senado.
Marcos Rogério (PL-RO) afirmou, na terça-feira (27), que Marina deveria “se colocar em seu lugar”, enquanto Plínio Valério (PSDB-AM) declarou que ela merecia respeito “como mulher, mas não como ministra”, numa tentativa de deslegitimar sua competência e autoridade.
Para Adriana Accorsi, esses ataques não são casos isolados, mas parte de uma estrutura machista e misógina ainda enraizada na política brasileira. No artigo, ela destaca dados do Ministério Público Federal que apontam mais de 200 casos de violência política de gênero registrados entre 2021 e 2024, envolvendo desde ofensas verbais até ameaças e agressões físicas.
“Os ataques à Marina, à Bia, à Luciana e à Jandira não são apenas contra elas. São contra todas nós que ousamos ocupar o espaço público”, afirma Adriana em trecho. “Tentam nos silenciar, nos deslegitimar, nos afastar da vida política, mas não vão conseguir. Seguiremos resistindo, ocupando e transformando.”
A parlamentar finaliza seu posicionamento reforçando que o lugar da mulher é onde ela quiser — na política, no ativismo, na liderança — e que nenhuma tentativa de intimidação será suficiente para apagar a força das vozes femininas que seguem lutando por um país justo, democrático e igualitário.
Veja o artigo
O episódio lamentável ocorrido no Senado Federal, envolvendo a Ministra, Marina Silva, não é um fato isolado; é um retrato cruel e, infelizmente, recorrente da violência política de gênero que atravessa os espaços de poder no Brasil.
Quando uma mulher é interrompida, deslegitimada, ironizada e constrangida no exercício legítimo de seu papel institucional, a violência deixa de ser apenas verbal. Ela se transforma em um instrumento de opressão, de tentativa de subjugação e, sobretudo, de silenciamento.
O que se tentou fazer com Marina Silva não é apenas um ataque a ela enquanto mulher, ministra ou liderança. É um ataque à democracia, ao meio ambiente e a todas as mulheres que ousam ocupar espaços de decisão e de poder.
A fala do senador Marcos Rogério — “Se ponha no seu lugar” — carrega séculos de opressão e ecoa a estrutura patriarcal que tenta, a todo custo, determinar qual deve ser o “lugar” da mulher. E Marina respondeu com a firmeza que lhe é própria: “Eu não sou uma mulher submissa”. E não é. Nunca foi.
Sua história é a própria síntese da resistência. Mulher, negra, seringueira, nascida no interior do Acre, superou a fome, o analfabetismo e inúmeras barreiras para se tornar uma das mais respeitadas vozes da luta ambiental no mundo. Marina não defende apenas a preservação da floresta; ela defende a vida, a soberania dos povos tradicionais, a justiça social e o futuro das próximas gerações. Sua trajetória é, por si só, uma lição de resiliência e de compromisso com a democracia e os direitos humanos.
Por isso, não é apenas Marina que estava ali sendo atacada. É cada mulher que ousa levantar a voz, questionar, discordar, propor. É cada mulher que resiste, que ocupa um espaço político, que enfrenta a violência simbólica — e, muitas vezes, física — de uma cultura que ainda tenta relegá-las à submissão ou ao silêncio.
A violência política de gênero não é uma abstração. Ela está presente nas interrupções constantes, no tom paternalista, nas tentativas de desqualificar, nos olhares que dizem “esse não é seu lugar”. Está presente quando se naturaliza que mulheres sejam tratadas com menos respeito, quando suas pautas são deslegitimadas, quando seus posicionamentos são ridicularizados ou ignorados.
Mas a verdade é que nós sabemos, e o Brasil sabe, qual é o nosso lugar: é onde quisermos estar. É nas cadeiras do Parlamento, nas mesas de negociação, nas secretarias, nos ministérios, nas ruas, nas universidades, nas lideranças comunitárias, nos movimentos sociais e, acima de tudo, no centro das decisões que constroem um país mais justo, mais igualitário, mais democrático e mais sustentável.
Marina Silva é símbolo dessa luta. Sua presença no Ministério do Meio Ambiente e da Mudança do Clima não é só técnica ou política, é civilizatória. Por isso, quando tentam calar Marina, tentam calar todas nós. Mas não conseguirão. Seguiremos de pé, firmes, construindo um país onde nenhuma mulher precise se levantar e ir embora de um espaço de poder por não ser respeitada. Onde nossa voz, nossa presença e nossa atuação sejam, de fato, respeitadas e reconhecidas.
A luta de Marina é nossa. E nós não seremos silenciadas. Jamais.
Adriana Accorsi é delegada, deputada federal e vice-presidente da Comissão dos Direitos da Mulher na Câmara Federal
Foto: Estadão