*Destaque, Opinião, Política Nem Lula e nem Bolsonaro, mas quem?

Por Marcos Marinho, especial para o Política e Cotidiano.

As eleições de 2026 se aproximam, e o cenário político brasileiro está novamente marcado pela polarização que dominou as últimas disputas presidenciais. De um lado, Jair Bolsonaro ainda exerce forte influência sobre a direita, enquanto Luiz Inácio Lula da Silva continua a ser a figura mais poderosa da esquerda. Apesar das críticas a ambos os líderes, as alternativas que poderiam emergir para desafiar essa dinâmica parecem até agora incipientes, revelando dificuldades estruturais e estratégicas em ambos os campos políticos.

O vácuo de liderança na direita

A direita brasileira, após o impeachment de Dilma Rousseff em 2016, viu em Jair Bolsonaro um catalisador para suas demandas. No entanto, o estilo de liderança polarizador de Bolsonaro e seu foco em pautas ideológicas muitas vezes ultrapassaram as barreiras da racionalidade política, alienando parte significativa do eleitorado moderado. Apesar disso, Bolsonaro continua a ser o principal referencial da direita, o que dificulta o surgimento de novos nomes que possam representar o campo de maneira mais abrangente.

Nomes como Tarcísio de Freitas e Romeu Zema são frequentemente citados como alternativas. No entanto, ambos enfrentam desafios para consolidar suas identidades políticas. Tarcísio, embora técnico e competente, tem dificuldade em desvincular-se da sombra de Bolsonaro. Zema, por outro lado, não conseguiu até agora apresentar um discurso nacional que ressoe além das fronteiras de Minas Gerais. Ainda temos balões de ensaio que, dia após dia, são lançados para testar nomes, queimar nomes ou aproveitar a economia da atenção em que vivemos e gerar clickbait, como: Pablo Marçal, Gustavo Lima e Ronaldo Caiado. Este último, diferente dos demais, com capital político real, mas ainda distante da viabilidade desejada para encabeçar a chapa.

A falta de articulação nacional, aliada a um discurso que muitas vezes se limita a uma ótica tecnocrática, torna esses nomes menos capazes de galvanizar o apoio necessário para desafiar a hegemonia do ex-capitão.

A falta de renovação na esquerda

Se a direita luta para escapar da órbita de Bolsonaro, a esquerda enfrenta desafio semelhante com Lula. A força política e simbólica do atual presidente é inegável, mas sua presença também inibe a ascensão de novas lideranças. Figuras como Fernando Haddad, Gleisi Hoffmann e Flávio Dino têm potencial, mas permanecem atreladas ao lulismo, seja por lealdade, seja pela falta de espaço para desenvolver um projeto autônomo.

Além disso, a esquerda enfrenta um dilema geracional. Apesar da importância de Lula como líder histórico, a falta de uma estratégia clara para preparar novos nomes reflete um problema mais profundo: a dependência de figuras carismáticas para a mobilização popular. Isso perpetua uma dinâmica em que as novas lideranças são percebidas mais como herdeiras do legado de Lula do que como inovadoras capazes de construir algo realmente novo.

Pior do que as direitas, nas esquerdas sequer vemos nome empenhados na disputa pela colocação.

O esgotamento do sistema e a busca por alternativas

A dificuldade de ambas as correntes em apresentar líderes que transcendam suas figuras centrais aponta para um esgotamento do sistema político brasileiro. A polarização é confortável para as elites partidárias, pois reduz o debate a um jogo de soma zero: ou você está com um lado ou com o outro. Isso sufoca a emergência de candidatos que poderiam oferecer alternativas viáveis e menos conflituosas.

Movimentos como a Rede Sustentabilidade, o Cidadania e o Novo tentaram, em diferentes momentos, romper essa dinâmica, mas enfrentaram barreiras significativas, como a falta de tempo de televisão, recursos financeiros limitados e a dificuldade de se conectarem com a maioria da população. Mesmo assim, a existência desses grupos mostra que há um terreno fértil para quem tiver capacidade de articular um projeto político verdadeiramente inovador.

O que está em jogo em 2026

A incapacidade de produzir novos líderes não é apenas um problema das elites políticas; é um reflexo de uma sociedade que ainda não conseguiu superar divisões profundas e construir uma visão compartilhada de futuro. Sem figuras capazes de quebrar o ciclo de polarização, as eleições de 2026 correm o risco de se transformar em mais um capítulo de um embate desgastado, onde o debate de ideias dá lugar a ataques pessoais e alianças de conveniência.

A questão que se impõe é clara: até quando o Brasil continuará refém de figuras que representam o passado, em detrimento de um futuro que demande inovação, coragem e visão de longo prazo? A resposta não está apenas nos partidos, mas na sociedade como um todo, que precisa demandar mais de seus líderes e reconhecer que a democracia é, acima de tudo, um processo coletivo de construção de caminhos.

Marcos Marinho – Professor e Estrategista Político

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