*Destaque, Brasil, Opinião O Alto Preço do Bolsonarismo: Como a Divisão na Direita Pode Custar as Eleições de 2026

Por Marcos Marinho, professor e estrategista político.

Jair Bolsonaro emergiu como uma força avassaladora na política brasileira em 2015, catapultado por um discurso radical que o levou à Presidência em 2018 com 55,13% dos votos no segundo turno. Sua ascensão marcou um momento de glória para a direita, mas também plantou as sementes de uma divisão que, em 2025, se mostra cada vez mais custosa. Às vésperas das eleições de 2026, o Bolsonarismo, com sua retórica polarizadora e populista, não apenas fragmenta a direita brasileira, mas também ameaça o propósito liberal e o projeto pragmático do centrão. Neste texto vou explorar como essa herança pode custar caro ao espectro conservador, comprometendo suas chances de voltar ao poder.

A Ascensão de Bolsonaro e a Fenda na Direita

Bolsonaro construiu sua trajetória com um discurso anti-establishment, conservador e nacionalista, que encontrou eco em milhões de brasileiros frustrados com a política tradicional. Contudo, sua gestão (2019-2023) foi marcada por decisões controversas: da minimização da pandemia de COVID-19 às políticas ambientais criticadas internacionalmente, passando por sua nostalgia explícita pelo regime militar. Após a derrota para Lula em 2022 e a inelegibilidade até 2030, decretada por ataques ao sistema eleitoral, Bolsonaro enfrenta agora, em 2025, acusações de conspiração contra o governo e o STF. Mesmo assim, seu movimento persiste, mantendo uma base fiel, mas dividindo a direita em dois campos irreconciliáveis: os bolsonaristas radicais e os moderados, incluindo o centrão e setores tradicionais como o PSDB.

Essa fragmentação ficou evidente nas eleições municipais de 2024. Enquanto o Partido Liberal (PL), ligado a Bolsonaro, teve desempenho aquém do esperado, partidos moderados, como o PSD, saíram fortalecidos, sinalizando uma preferência do eleitorado por uma direita menos beligerante. A persistência do Bolsonarismo, porém, mantém a direita em um estado de guerra interna, com consequências que reverberam tanto no propósito liberal quanto no projeto do centrão.

O Propósito Liberal Sob Ameaça

O liberalismo, com seus ideais de liberdade individual, economia de mercado e respeito às instituições, deveria ser um pilar unificador da direita brasileira. Figuras como Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo e ex-ministro de Bolsonaro, tentam encarnar essa agenda. No entanto, o Bolsonarismo a sufoca. Durante seu governo, Bolsonaro frequentemente desprezou princípios liberais básicos, como a separação de poderes, ao confrontar o STF e questionar a legitimidade das urnas eletrônicas. Sua retórica autoritária e políticas anti-direitos humanos – criticadas por entidades como a Human Rights Watch – afastaram eleitores moderados e centristas, essenciais para uma coalizão vitoriosa.

O custo é claro: o Bolsonarismo polariza o eleitorado e fragmenta o voto da direita. Caso Bolsonaro consiga reverter sua inelegibilidade e concorra em 2026, sua candidatura pode energizar sua base, mas também repelir os eleitores que buscam pragmatismo, não radicalismo. Sem esses votos, a direita liberal perde a capacidade de construir uma maioria, correndo o risco de entregar a eleição à esquerda ou a um candidato centrista. O propósito liberal, assim, é sacrificado no altar do populismo bolsonarista.

O Centrão em Xeque

O centrão, conhecido por sua habilidade de navegar entre governos em busca de influência e estabilidade, também paga um preço alto pela sombra de Bolsonaro. Durante seu mandato, o bloco foi um aliado chave, mas a relação foi tensa, marcada por choques entre o pragmatismo do centrão e o radicalismo do ex-presidente. Em 2026, o dilema é ainda mais agudo. Apoiar Bolsonaro – se ele puder concorrer – pode garantir o entusiasmo da base bolsonarista, mas compromete a imagem de estabilidade que o centrão cultiva, além de afastar eleitores moderados. A vitória de Donald Trump em 2024 nos EUA reacendeu esperanças na ala radical da direita brasileira, mas no Brasil o cenário é outro: o desgaste de Bolsonaro, somado a escândalos e investigações, pode arrastar o centrão para o descrédito.

Se Bolsonaro não concorrer, o centrão pode buscar alternativas como Tarcísio de Freitas, mas a transição não será simples. A base bolsonarista, ainda potente, pode rejeitar um nome menos radical, aprofundando a divisão. O projeto do centrão – garantir governabilidade e influência – fica refém dessa instabilidade, com o risco de perder relevância caso a direita não se unifique.

2026: O Teste Final

As eleições do próximo ano serão um divisor de águas. Lula, elegível para mais um mandato, já acena com a possibilidade de concorrer, enquanto Fernando Haddad surge como alternativa no campo da esquerda, mas obviamente sem o poder de atração e aglutinação do atual presidente. Na direita, a incerteza sobre Bolsonaro domina o debate. Se ele concorrer, sua presença pode polarizar o pleito, mas também dividir o voto conservador. Se não concorrer, a direita precisará de um nome capaz de unir bolsonaristas, liberais e o centrão – uma tarefa hercúlea. Tarcísio de Freitas é uma aposta, mas sua capacidade de agradar a todos é incerta. Michelle Bolsonaro, outra possibilidade, carece de tração eleitoral significativa. Ronaldo Caiado, que vai lançar sua pré-candidatura na próxima sexta-feira (04/04), em Salvador – BA, tenta a difícil missão de se viabilizar e saltar o Paranaíba a fim de ser o escolhido para empunhar o estandarte bolsonarista em 2026.

Pesquisas de 2023 mostram que o Bolsonarismo ainda é competitivo, mas essa força vem acompanhada de um calcanhar de Aquiles: a divisão que ele provoca. Sem coesão, a direita corre o risco de ver seu voto pulverizado, abrindo caminho para a vitória de seus adversários.

O Caminho da Unificação

O Bolsonarismo foi um catalisador para a direita em 2018, mas seu legado de divisão tornou-se um fardo. Ele compromete o propósito liberal ao alienar moderados e enfraquece o projeto do centrão ao minar sua credibilidade. Para vencer em 2026, a direita brasileira precisa “deixar para trás” a radicalidade e se unir em torno de uma agenda liberal, pragmática e inclusiva. Tarcísio de Freitas atualmente parece despontar como a ponte para essa unificação, mas o sucesso dependerá da capacidade de superar as cicatrizes deixadas por Bolsonaro, além de conquistar o coração dos bolsonaristas, importantíssimos para as mobilizações durante a campanha.

O custo do Bolsonarismo já é visível: uma direita fragmentada, incapaz de articular uma visão comum. Se nada mudar, 2026 pode marcar não apenas a derrota eleitoral, mas o fim de uma oportunidade histórica de consolidar uma direita forte e renovada no Brasil. A escolha está nas mãos de seus líderes – e o tempo está se esgotando.

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