Por, professor Marcos Marinho
Nos últimos dias o cenário político brasileiro tem sido palco de declarações polêmicas atribuídas ao presidente Lula – agora em seu terceiro mandato – que vêm reacendendo debates sobre responsabilidade comunicacional e os riscos de uma crise de imagem para o governo. Ao analisar os episódios recentes, é possível identificar um padrão de falas que, embora possam ter a intenção de reforçar determinadas posições políticas, acabam por minar a confiança dos diversos públicos internos e externos.
Em fevereiro deste ano, durante uma coletiva de imprensa, Lula afirmou que “a inflação não sobe se os trabalhadores soubessem economizar”. A declaração, veiculada por veículos como a IstoÉ, repercutiu negativamente, pois parecia transferir a responsabilidade dos desafios econômicos do governo para a própria população. Em um contexto de alta dos preços, essa postura, considerada simplista por economistas e especialistas, evidencia como a escolha das palavras pode influenciar a percepção sobre a gestão estatal.
O presidente também já fez uma declaração sobre investimentos estrangeiros, onde disse: “Investidores estrangeiros parecem esquecer que o Brasil é feito de gente e não de números de um mercado global. Se querem lucro fácil, que procurem oportunidades no Vale do Silício.” Segundo análises publicadas pelo portal Metrópoles, a fala foi interpretada por alguns setores como uma postura isolacionista, abrindo margem para questionamentos sobre a política econômica e os compromissos internacionais do país.
Essas declarações, amplificadas pelo instantâneo alcance das redes sociais e pela cobertura midiática incessante, possuem o potencial de desencadear uma crise de imagem com efeitos duradouros na governabilidade. Quando um líder político adota um discurso que parece simplificar ou até distorcer a complexidade dos problemas nacionais, a confiança – seja dos investidores, dos parceiros internacionais ou da própria população – pode ser abalada.
Analistas apontam que esse cenário não é exclusivo de Lula. Nos Estados Unidos, por exemplo, as declarações controversas do ex-presidente Donald Trump contribuíram para uma polarização extrema e dificultaram o estabelecimento de consensos em meio à crise política. Na Europa, figuras como Matteo Salvini enfrentaram consequências similares, com discursos que foram considerados xenófobos e divisivos, afetando tanto a imagem pessoal quanto a estabilidade institucional. No Brasil, a experiência de Jair Bolsonaro também ilustra como falas desastradas podem se transformar em munição para a oposição, exacerbando conflitos e prejudicando o ambiente de governança.
Em um ambiente em que a velocidade da informação é cada vez maior, a responsabilidade na comunicação torna-se um elemento crucial para a estabilidade política e econômica. Cada palavra proferida pelo líder máximo do país é minuciosamente analisada e pode ser reinterpretada por diversos segmentos da sociedade, das minorias às grandes corporações internacionais.
Portanto, é imperativo que o discurso oficial seja pautado por uma análise cuidadosa dos impactos sociais e econômicos. A comunicação, quando feita de forma responsável e embasada, fortalece a credibilidade do governo e cria um ambiente propício para o diálogo e a construção de políticas públicas eficazes. Em contrapartida, falas desastradas podem transformar-se em gatilhos para crises que transcendem o âmbito político, afetando a imagem do país no exterior e a confiança de seus cidadãos no futuro das instituições democráticas.
O episódio de 2025 nos alerta sobre a tênue linha entre a liberdade de expressão e a responsabilidade de quem detém o poder. Enquanto a crítica e a oposição política são componentes essenciais de qualquer democracia, a comunicação descuidada e os discursos polarizadores podem minar a própria essência do debate democrático e comprometer a eficácia do governo. Cabe, portanto, aos líderes repensarem suas estratégias comunicacionais, equilibrando autenticidade com a necessidade de construir uma narrativa que, acima de tudo, promova a união e o progresso do país.
Em tempos de intensa polarização e transformação digital, a escolha das palavras se torna, sem dúvida, uma ferramenta de poder – e, quando mal utilizada, pode transformar a política em um terreno fértil para crises de imagem e governabilidade.